Texto: BENSEÑOR IM. Anamnese, exame clínico e exames
complementares como testes diagnósticos. Rev. Med., 4:236-241, 2013.
“A principal ferramenta de que o médico
dispõe para fazer o diagnóstico das queixas apresentadas pelo paciente são a
anamnese e o exame físico” (p. 237).
“Hampton et al., no cenário da medicina
ambulatorial inglesa, mostrou em 80 pacientes que a anamnese isolada era
responsável por 82,5% dos diagnósticos, anamnese mais exame físico eram responsáveis
por mais 8,75% e que anamnese, exame físico e exames complementares eram
responsáveis por mais 8,75%. Sandler2, também na Inglaterra, mostrou em 630
pacientes que a anamnese era responsável por 56% dos diagnósticos, anamnese
mais exame físico por mais 17% e o restante era responsabilidade de exames
complementares dirigidos à queixa específica do paciente” (p. 237).
“A conclusão do estudo é que não se deve pedir uma
lista fixa de exames e sim, solicitar os exames complementares em função da
queixa” (p. 237).
“Os dados mostram que em ambulatório de pronto
atendimento dentro de um hospital de referência, a anamnese e o exame físico
ainda são as principais ferramentas de que o médico dispõe” (p. 237).
“Ao invés de complicar, o conhecimento da
sensibilidade de uma manobra do exame clínico aumenta capacidade do médico
fazer diagnósticos em uma primeira consulta” (p. 237).
“[...] David Sackett6 que foi o principal criador dessa
iniciativa afirma que a anamnese e o exame físico dão ao médico todas as ferramentas
de que ele necessita para fazer o diagnóstico, permite que sejam afastadas
hipóteses diagnósticas, e permite ainda a identificação de pacientes em
estágios iniciais de doenças que poderiam levar a morte” (p. 237-238).
“Portanto, atualmente, com o uso da sensibilidade,
da especificidade, dos valores preditivo positivo e negativo e das razões de
verossimilhança positiva e negativa, que utilizam os conhecimentos de
probabilidade condicional descritos pelo reverendo Thomas Bayes há dois séculos
atrás, ciência e arte se misturam e se completam” (p. 238).
“Para interpretação de um teste diagnóstico é
necessário o conhecimento de algumas definições a partir de uma tabela 2x2. Os
resultados de um teste diagnóstico permitem quatro possíveis interpretações: (1)
verdadeiro-positivo, quando positivo na presença da doença; (2) falso-positivo,
se o teste revelar-se positivo em paciente sem a doença; (3) verdadeiro-negativo,
ao excluir possibilidade da doença em indivíduo que realmente não a possui; (4) falso-negativo, ao
descartar a doença ela esta presente” (p. 238).
“A RVP é um número que a partir da probabilidade
pré-teste calcula a probabilidade pós-teste do paciente ter a doença” (p. 238).
“Quanto mais alta a RVP melhor, a probabilidade
pós-teste fica próxima de 100% e é possível fechar o diagnóstico do paciente
antes que outros exames sejam realizados (Tabela 4). Quando o resultado do
teste é negativo, calcula-se a razão de verossimilhança negativa (RVN). Em
relação a RVN, quanto mais próxima de zero melhor. Quando a RVN é próxima de
zero, independente do valor da probabilidade pré-teste, o valor da
probabilidade pós-teste será próximo de zero e é possível afastar o diagnóstico
de uma doença determinada naquele paciente” (p. 239).
“Não existe nenhum conflito entre a anamese, o
exame clínico e os exames complementares. Todos tem seu papel na investigação
diagnóstica. Mas há sim uma ordenação que deve ser mantida e começar pela
anamese e terminar pelos exames complementares” (p. 240).
“Outra questão é a da priorização dos exames
complementares para quem tem mais necessidade. Os gastos com saúde são finitos
e limitados ao orçamento de prefeituras, estados e do país como um todo. Mesmo
em um hospital terciário há restrições a realização desses exames causada pela
grande procura e o número de aparelhos e de operadores disponíveis. A
utilização desse tipo de ferramenta permite uma priorização dos pacientes que
mais precisarão do exame complementar, e como consequência, leva a um melhor
gerenciamento do sistema de saúde como um todo” (p. 240).
Texto: As
Diretrizes brasileiras no manejo da tosse crônica - J. bras. pneumol. vol.32 suppl.
6 São Paulo Nov. 2006: 403-410. Acesso em: http://dx.doi.org/10.1590/S1806-37132006001000002.
“A
tosse constitui um sintoma de uma grande variedade de patologias, pulmonares e
extrapulmonares, e por isto mesmo é muito comum, sendo,com certeza, uma das
maiores causas de procura por atendimento médico” (p. 403).
“Aguda:
é a presença do sintoma por um período de até três semanas. Subaguda: tosse
persistente por período entre três e oito semanas. Crônica: tosse com duração
maior que oito semanas” (p. 403).
“Existem
dois mecanismos de depuração para proteção das vias aéreas com relação à
entrada de partículas procedentes do meio externo. O primeiro é o clearance
mucociliar, através do qual os movimentos ciliares impulsionam, no sentido
cranial, uma fina camada de muco com partículas a serem depuradas. A tosse,
ocorrendo por meio de ato reflexo, é o segundo mecanismo envolvido neste sistema
de proteção das vias aéreas inferiores, podendo ser voluntária ou involuntária”
(p. 403).
“Os principais benefícios da tosse são: eliminação
das secreções das vias aéreas pelo aumento da pressão positiva pleural, o que
determina compressão das vias aéreas de pequeno calibre, e através da produção
de alta velocidade do fluxo nas vias aéreas; proteção contra aspiração de
alimentos, secreções e corpos estranhos; é o mais efetivo mecanismo quando
existe lesão ou disfunção ciliar, como acontece na mucoviscidose, asma e
discinesia ciliar; proteção contra arritmias potencialmente fatais (ao
originar aumento de pressão intratorácica)” (p.
403).
“O ato de tossir está sob controle voluntário e
involuntário, e consiste das fases inspiratória, compressiva e expiratória,
seguindo-se a fase de relaxamento” (p. 403).
“São mecanismos de supressão ou de diminuição da
efetividade da tosse: a presença de anormalidades ou alterações no arco reflexo
[...]; uso de medicamentos sedativos e narcóticos; dano decorrente de aumento
de pressão sobre o centro da tosse [...]; doenças neuromusculares [...]; expiratória;
cirurgias abdominais e torácicas; anomalias da laringe com ineficácia de
abertura da glote (paralisia de cordas vocais); e ineficácia de abertura da
glote por procedimentos médicos (traqueostomia, tubo nasotraqueal)” (p.
403-404).
“O
reflexo da tosse envolve cinco grupos de componentes: receptores de tosse,
nervos aferentes, centro da tosse, nervos eferentes e músculos efetores” (p.
404).
“Os
receptores da tosse podem ser encontrados em grande número nas vias aéreas
altas, da laringe até a carina, e nos brônquios, e podem ser estimulados por
mecanismos químicos (gases), mecânicos (secreções, corpos estranhos), térmicos
(ar frio, mudanças bruscas de temperatura) e inflamatórios (asma, fibrose
cística)” (p. 404).
“Os impulsos da tosse são transmitidos pelo nervo
vago até um centro da tosse no cérebro que fica difusamente localizado na
medula. Até hoje não se conhece o local exato do centro da tosse” (p. 404).
“Os
receptores da tosse pertencem ao grupo dos receptores rapidamente adaptáveis,
que representam fibras mielinizadas, delgadas e contribuem para a condução do
estímulo, mas ainda permanece não esclarecido seu potencial de indução de
broncoconstricção” (p. 404).
“As
principais causas de tosse crônica podem guardar entre si a característica
comum de haver envolvimento inflamatório incidindo nas vias aéreas” (p. 405).
“Destarte, a fisiopatologia da tosse crônica reúne
um grupo de anormalidades que interferem no delicado arco reflexo, ativando
receptores de fibras aferentes, notadamente relacionadas ao nervo vago. Os receptores rapidamente adaptáveis e as
fibras C modulam a resposta com participação de centros mais elevados, ainda
pouco definidos” (p. 405).
“Apesar da falta de estudos prospectivos com grande
casuística, a experiência clínica indica que as maiores causas de tosse aguda
são as infecções virais das vias aéreas superiores, em especial o resfriado
comum, e das vias aéreas inferiores, com destaque para as traqueobronquites
agudas. Outras causas comuns são as sinusites agudas, exposição a alérgenos e
irritantes, e exacerbações de doenças crônicas como asma, doença pulmonar
obstrutiva crônica (DPOC) e rinossinusites. Além dessas entidades com baixo
risco de complicações, outras doenças potencialmente graves como pneumonias,
edema pulmonar por insuficiência ventricular esquerda, embolia pulmonar e
exacerbações graves de asma e DPOC podem manifestar-se com tosse aguda e, ao
contrário das causas anteriores, necessitam de intervenção precoce devido ao
risco de complicações (Quadro 1)” (p. 406).
“Na avaliação do paciente com tosse aguda é
fundamental identificar, através da história clínica, exame físico e quando
necessário de propedêutica, casos de tosse devidos a crise de asma, exacerbação
da DPOC, bronquiectasias infectadas e descontrole de rinossinusopatia” (p.
407).
“Na avaliação de pacientes com tosse aguda é
fundamental pesquisar a exposição a fatores alérgicos, ambientais ou
ocupacionais que tenham relação temporal com o início ou piora da tosse. O
afastamento da exposição, quando não houver doença respiratória pré-existente,
como asma ou rinite, pode tornar desnecessário o uso de medicamentos para
controle dos sintomas” (p. 408).
“É essencial identificar o uso de medicamentos
capazes de causar tosse como os inibidores da enzima conversora da angiotensina
(captopril, enalapril, etc) e os beta-bloqueadores” (p. 408).
“No I Consenso Brasileiro sobre Tosse realizado em
1997, tosse com duração superior a oito semanas era classificada como crônica”
(p. 408).
“No Consenso Norte-Americano de Tosse publicado em
2006 foi proposta nova classificação na qual a tosse com duração superior a
três e inferior a oito semanas foi definida como tosse subaguda” (p. 408).
“Tosse
pós-infecciosa - O diagnóstico é realizado por exclusão, e devem
ser considerados três aspectos fundamentais: tosse com duração superior a três
e inferior a oito semanas; avaliação clínica detalhada sem identificação de uma
causa; história de infecção das vias aéreas nas últimas três semanas” (p. 408).
“Uma história clínica cuidadosa permite um
diagnóstico clínico na maioria das vezes, sem a necessidade de investigação
adicional ou de tentativas terapêuticas, sendo esta anamnese e o exame físico a
primeira etapa na investigação da tosse crônica. Estes dois instrumentos têm
sido úteis no diagnóstico da tosse em até 70% dos casos. No Brasil, dois
estudos relatam valores semelhantes, um em um centro terciário e outro em um
hospital geral” (p. 409).
“Os sintomas sugestivos de asma, rinossinusite ou
doença do refluxo gastresofágico estão presentes em cerca da metade dos
pacientes que procuram uma clínica especializada. Embora a tosse possa ser o
único sintoma presente nestas condições, não devemos deixar de realizar uma
história detalhada e exame físico completos” (p. 410).
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