INTRODUÇÃO
O ser humano sempre se
questionou sobre a veracidade dos fatos e sobre como construir uma ideia que
fosse aceita e perpetuada por toda a História. O pensar humano sempre foi uma
ferramenta fundamental para a sua sobrevivência e, esta ferramenta garantiu os
subsídios para a perpetuação de culturas, práticas, avanços e evoluções.
A estrutura organizacional do
pensamento foi tema de várias indagações de filósofos desde os tempos mais
remotos. E cada um deles com suas crenças e concepções buscaram fundamentar
suas ideias acerca da peça fundamental para o pensar humano, assim como, organizar
este pensar em estratégias que garantissem uma maior confiabilidade e
veracidade na estruturação dos raciocínios e nas conclusões alcançadas.
Nesta perspectiva, insere-se a
lógica, peça fundamental para a estruturação do pensar, a qual permite
organizar ideias, e inferir sobre possíveis conclusões acerca de fatos (CHAUÍ,
2002). E esta lógica pode ser subdividida a depender dos tipos de raciocínios
que embasem a construção do pensamento e a busca por definições. Assim, a
lógica pode ser dedutiva, indutiva, hipotético-dedutiva ou abdutiva. E neste
âmbito, o objetivo desta pesquisa foi realizar pesquisas bibliográficas acerca
dos diferentes tipos de lógica, caracterizando-as, no intuito de garantir uma
ampliação de conhecimento e uma maior assimilação de aprendizado.
A metodologia utilizada foi a
de busca de referencial teórico em banco de dados acerca das temáticas
abordadas neste estudo. Desta forma, foram feitas buscas bibliográficas no
Google Acadêmico, utilizando como variáveis os termos: lógica, lógica dedutiva,
lógica indutiva, lógica hipotético-dedutiva, e lógica abdutiva.
LÓGICA
Quando pensamos no termo
“lógica” sempre nos remetemos a associações com filósofos, interpretações da
realidade, a estrutura do pensamento e a percepção do que é verdadeiro ou não;
deste modo, a lógica foi classificada como uma ciência que estuda os
raciocínios. A origem da lógica remete-se a Grécia Antiga, sendo utilizada
pelos estoicos, por Alexandre de Afrodisia e por Aristóteles (CHECCHIA, 2004).
Aristóteles empregou a lógica
em seus escritos, no entanto, ele não a classificava como ciência, visto que
não era um conhecimento teórico ou prático de um objeto. Neste âmbito, não havia
uma referência entre a lógica e os conteúdos, mas sim uma associação entre as
formas de pensar ou de se estruturar o raciocínio em prol de alguma
demonstração. Assim, há uma busca por fatores que constituam as estruturas do
pensar e das linguagens, alicerçando suas maneiras de operar e relacionar entre
si. Nesta perspectiva, a lógica infere sobre normas que seriam ideais para
estruturar os pensamentos e aplica-los em pesquisas que busquem demonstrar a
verdade, caracterizando-a como um instrumento que compõe as ciências, visto que
permite a formulação de ideias e proposições, estruturação do raciocínio,
permitindo provas e demonstrações, o que infere sobre os passos que uma ciência
deve seguir para obter resultados válidos (CHAUÍ, 2002).
A partir do século XVII foi
possível associar de forma mais evidente a linguagem com a lógica, e Leibniz é
um grande exemplo disso, pois utilizando a álgebra inferiu que não é possível
separar a lógica da linguagem. Na álgebra, Leibniz demonstrou que a ausência de
ambiguidades na linguagem transmite a ideia desejada e é compreendida por
todos, independentemente do idioma de origem, visto que os símbolos são
universais. Assim, Leibniz com sua linguagem simbólica possibilitou evidenciar
a clareza do pensar nas suas demonstrações (CHAUÍ, 1997).
Outros filósofos também
contribuíram para a assimilação desse ideal de associar os significados das
coisas, sem ambiguidades, garantindo a sistematização e a organização de
ideias. No século XIX, houve a concretização de uma lógica inspirada em
linguagens sem ambiguidades. Vários autores, posteriormente, foram contribuindo
para a alteração da lógica sob a visão aristotélica, para uma lógica
constituída de concepções de proposições lógicas (CHECCHIA, 2004).
A lógica dedutiva surgiu na
Grécia Antiga baseada no silogismo de Aristóteles. Esta lógica baseia-se na
dedução das ideias apresentadas, e a partir delas, chega-se a uma conclusão, e
esta pode ser tanto verdadeira quanto falsa. A lógica dedutiva baseia-se no
raciocínio dedutivo, e este parte do geral para o particular (FERRARI, 1974).
Para Karl Popper a lógica
dedutiva é importante para a ciência, visto que ela permite a transmissão da
verdade, a retransmissão da falsidade e a não retransmissão da verdade. A
lógica dedutiva permite inferir sobre a verdade, visto que se a conclusão é
verdadeira, todas as premissas também serão verdadeiras. A conclusão será uma
retransmissão da falsidade se uma das premissas for falsa. A conclusão não será
retransmissora da verdade, se houver uma ou mais premissas falsas. Um exemplo
de raciocínio dedutivo: premissa maior é que todos os “A” são “B”, premissa
menor é que “X” é “A”, portanto, a conclusão dedutiva será que “X” é “B”
(SILVEIRA, 1989).
A lógica indutiva é diferente
da lógica dedutiva, visto que, esta se baseia no raciocínio indutivo, defendido
por vários filósofos, como por exemplo Bacon. Este raciocínio é ascendente, ou
seja, ele inicia-se no caso particular para se alcançar a conclusão, isto é,
parte do particular para o geral. Neste âmbito, a conclusão é a generalização
de dados particulares (FERRARI, 1974).
A ciência fundamentada em
raciocínio indutivo baseia-se no princípio da indução. Um bom exemplo de
raciocínio indutivo: Se há uma grande variedade de “A” sendo observado sob uma
ampla variedade de condições, se todos esses “A” observados possuem “B”,
portanto a conclusão indutiva será que todos os “A” possuem “B”, sendo esta
conclusão científica alicerçada pela indução e construída pela observação
(CHALMERS, 1993).
LÓGICA HIPOTÉTICO-DEDUTIVA
O filósofo Karl Popper era
contrário ao raciocínio indutivo, e nesta perspectiva, propôs o raciocínio
hipotético-dedutivo baseado na lógica hipotético-dedutiva. Este raciocínio é
bastante aceito nas ciências naturais, e pode ser explicado da seguinte forma:
inicialmente escolhe-se algum problema ou alguma ausência de explicação em
algum conhecimento científico, em seguida formulam-se hipóteses para explicar
tal problema ou situação, posteriormente, por inferência dedutiva testam-se as
ocorrências dos fenômenos e a seleção da hipótese mais apropriada (GIL, 1994;
DIAS & FERNANDES, 2000).
Segundo Dias & Fernandes
(2000) a pesquisa baseada em método hipotético-dedutivo apresenta uma abordagem
clara e precisa, visto que a partir da seleção do problema que se deseja
estudar, adiciona-se a pesquisa fontes de conhecimentos sobre o assunto, e após
esta fase de preparação, o pesquisador inicia a etapa de observação, na qual,
ele testa os modelos simplificados propostos em um determinado aspecto. Em
seguida, hipóteses são formuladas baseadas nas descrições observadas, sendo
utilizadas para elaboração de prognósticos, e estes poderão ser comprovados ou
não por intermédio de testes, procedimentos, experimentos, ou até mesmo
observações mais elaboradas. Após a obtenção dos resultados dos experimentos,
as hipóteses podem ser alteradas e com isso outro ciclo de raciocínio será
iniciado, e caso não haja nenhuma discrepância entre os modelos propostos e os
experimentos ou observações, teorias podem ser elaboradas sobre o assunto
estudado.
LÓGICA ABDUTIVA
A lógica abdutiva rege o raciocínio
abdutivo, e este está associado ao pensamento criativo, o qual permite a
criação, alteração e expansão de um domínio de crenças compreendidas como um
hábito. Em termos gerais, a mente criativa ao se deparar com problemas, associa
os fatores com domínio de crenças disponíveis, e com isso, dúvidas e surpresas
alicerçam na busca por hipóteses plausíveis que poderiam explicar ou solucionar
tais problemas (GONZALEZ & HASELAGER, 2002).
Neste âmbito, segundo Peirce,
os processos para este raciocínio abdutivo é o seguinte: o sentimento de dúvida
ou de surpresa resultante de um problema alicerça o pensamento criativo, este
sentimento de dúvida ou de surpresa estimulam a mente a buscar explicações em
crenças bem estabelecidas ou abalar tais crenças, a ponto de estimular a mente
a buscar e/ou formular crenças. Assim, hipóteses que busquem explicar os
processos podem alterar a percepção da situação em estudo. Um exemplo desse
raciocínio: um fato “C” surpreendente é observado, formula-se uma hipótese “A”
para explicar, a hipótese “A” sendo verdadeira explica o fato “C”, sendo assim,
suspeita-se que a hipótese “A” seja verdadeira. A inferência abdutiva não
proporciona uma garantia absoluta sobre a validade das hipóteses, mas proporciona
uma tentativa de elucidar a mente acerca das dúvidas geradas pela situação
problema (GONZALEZ & HASELAGER, 2002).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa bibliográfica
proporcionou um aprendizado acerca dos diferentes tipos de lógicas e a aplicabilidade
para cada uma delas. Sendo a lógica, em termos gerais, a ciência dos
raciocínios, a qual permite a formulação de vários raciocínios a depender do
método que se deseja utilizar para alcançar a definição e/ou explicação de um
fato. A lógica dedutiva parte de uma ideia geral para formular uma ideia
particular; a lógica indutiva parte de uma ideia particular para formular uma
ideia geral; a lógica hipotético-dedutiva busca a explicação para um problema a
partir de hipóteses, que por inferência dedutiva, são testadas e selecionadas;
e a lógica abdutiva associa-se ao pensamento criativo permitindo a criação,
alteração e expansão de crenças.
CHALMERS, AF. O que é ciência afinal? Editora
Brasiliense, 1993.
CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo:
Ática, 1997.
CHAUÍ, M. Introdução à história da filosofia. São
Paulo: Companhia das Letras, 2002.
CHECCHIA, MA. Considerações iniciais sobre
lógica e teoria lacaniana. Psicologia USP, 15: 321-338, 2004.
DIAS, C & FERNANDES, D. Pesquisa e métodos
científicos. Res Con Cien, 1-10, 2000.
FERRARI, AT. Metodologia da ciência. Rio de
Janeiro: Kennedy, 1974.
GIL, AC. Métodos e técnicas de pesquisa social.
4. ed. São Paulo: Atlas, 1994.
GONZALEZ, AEQ & HASELAGER, WFG.
Raciociocínio Abdutivo, Criatividade e Auto-organização Raciociocínio Abdutivo,
Criatividade e Auto-organização Abductive reasoning, creativity and
self-organization. Cognitio, 22-31, 2002.
SILVEIRA,
FL. A filosofia de Karl Popper e suas implicações no ensino da ciência. Cad Cat
Ens Fís, 6 (2): 148-162, 1989.
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